Sem Compromisso.

“Ficar distante entre o compromisso do namorar?

“Homens que lutaram pelo fico no Brasil

José Clemente Pereira e José Bonifácio

Que entregaram no palácio a petição

Rogando a Dom Pedro I

Que permanecesse em nossa nação”

* Samba-Enredo 1962 – Dia do Fico

G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis (RJ).

Ficar nos tempos de hoje é caracterizado pelo relacionamento onde os jovens possuem intimidade e proximidade, porém não existe envolvimento familiar e de certa forma, não requer compromisso sério.

A   frase que entrou para a história bem menos enfática ou heroica, esclarece detalhes importantes que o Dia do Fico mitificado encobriu naquele momento, janeiro de 1822, o príncipe regente não tinha qualquer intenção separatista. Primeiro porque ele considerava o Brasil parte da nação portuguesa. Segundo, porque não pretendia romper com as Cortes, mas apenas retardar seu retorno a Portugal, demorarei minha saída? Era somente um jovem de 23 anos que estava sendo pressionado e tinha dúvidas sobre que opção tomar. Criado nas tradições absolutistas, D. Pedro reagia contra as Cortes de Lisboa cuja soberania impunham-se como superiores à Coroa.

Opunha-se às Cortes que, dizia, reduziram o rei D. João VI a mero servidor do Poder Legislativo. Justificava a sua reação com o argumento de defender os direitos inerentes à Coroa portuguesa e, sobretudo, os direitos do Brasil. Assim, se por um lado, as atitudes do Príncipe pareciam rebeldes, por outro não deixavam de enaltecer os laços entre os membros do império português, e mantinha a concepção de uma união entre Brasil e Portugal. Avesso às decisões de assembleias, como demonstrará em outras ocasiões, D. Pedro até pode ser considerado um liberal, jamais um democrata. Portanto, é um equívoco interpretar o Dia do Fico como o primeiro passo da independência. Até porque não se pode ver o passado com os olhos do futuro, isto é, analisar a história buscando confirmar ou achar evidências do que vai acontecer depois.

Para os comerciantes e donos de terras e escravos, a permanência de D. Pedro era importante para manter a ordem e a unidade interna. Preservar a monarquia, isto é, um centro de poder unindo o país, era a opção para evitar a fragmentação do Brasil e, o maior dos medos, uma revolução social que cooptasse os escravos a pegarem em armas. A maior preocupação e medo da Revolução Haitiana (1791-1804) era muito presente entre a elite escravocrata brasileira. Naquele momento, a grande preocupação da classe endinheirada era preservar seus privilégios e a ordem no país, vendo assim um país de privilégios, ideia de independência viria depois, ao longo daquele ano, mas sempre em torno de D. Pedro, o ficante.

 

Denilson Costa

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