Vista a minha pele

O Brasil, assim como países de outros continentes, sofreu com longos períodos de escravidão e racismo institucionalizado. Por obviedade, o período de escravidão é quase que inerente ao que se entende por racismo, no entanto, mesmo depois de promulgada a Lei Áurea de 13 de maio de 1888 que exigiu a abolição da escravatura no Brasil, o preconceito e a discriminação por cor continuaram pelo país, a Proclamação da República, universalizando o direito à cidadania e, em tese, levando às pessoas negras a igualdade de direitos, lhes garantindo educação, saúde, emprego, moradia, terra, etc.

O mito da democracia racial e a mestiçagem no Brasil estabelecem um sistema racial desprovido de qualquer barreira legal ou institucional para a igualdade racial, e, em certa medida, um sistema racial desprovido de qualquer manifestação de preconceito ou discriminação. A democracia garante a igualdade e equidade de direitos para todos, independentemente da cor da pele ou origem étnica. Um ano após a Lei Áurea, porém, a Constituição de 1891 em um de seus artigos estabelece que o direito de votar e seja votado era restrito àqueles que fossem alfabetizados, condição que a maioria da população negra, que há pouco havia sido abolida, não possuía.

O mito do racismo democrático é uma sombra que paira sobre a sociedade, um véu que encobre as desigualdades e as injustiças que permeiam as relações raciais em nosso país. Em um Brasil que se orgulha de sua diversidade e de sua miscigenação, o racismo se manifesta de forma sutil e insidiosa, camuflado sob a ideia de uma suposta igualdade e harmonia racial.

A narrativa do racismo democrático busca negar a existência do preconceito e da discriminação com base na cor da pele, argumentando que todos têm as mesmas oportunidades e que as diferenças raciais são superadas pela democracia e pela meritocracia. No entanto, a realidade nos mostra um quadro bem diferente, onde a cor da pele continua a determinar o acesso a direitos, oportunidades e privilégios em nossa sociedade.

Ao olharmos para as estatísticas de desigualdade social, de representatividade política e de acesso à educação e ao mercado de trabalho, fica evidente que o racismo estrutural ainda está presente em todas as esferas da sociedade. É um racismo que se manifesta de forma velada, através de estereótipos, preconceitos e discriminações que afetam diariamente a vida e a dignidade de milhões de pessoas negras em nosso país.

O mito do racismo democrático é uma tentativa de silenciar as vozes daqueles que sofrem as consequências do preconceito racial, de minimizar a gravidade dos problemas enfrentados pela população negra e de perpetuar a ideia de que vivemos em uma sociedade igualitária e justa. No entanto, a realidade nos mostra que o racismo continua a ser um problema estrutural, enraizado em nossas instituições e práticas sociais, que precisa ser reconhecido e combatido de forma urgente e eficaz.

Enquanto persistir o mito do racismo democrático, estaremos longe de alcançar uma verdadeira igualdade racial em nossa sociedade. É fundamental que reconheçamos a existência do preconceito e da discriminação racial, que ouçamos as vozes daqueles que são marginalizados e oprimidos, e que lutemos juntos por uma sociedade mais justa, inclusiva e igualitária para todos os seus cidadãos, independentemente de sua cor de pele. A verdadeira democracia só será alcançada quando todos os indivíduos forem tratados com respeito, dignidade e igualdade, sem distinção de raça, gênero ou origem.

 

Denílson Costa

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