11º andar

Por: Jorge Eduardo Magalhães

Debruçado na sacada do décimo-primeiro andar da universidade, pensava em se jogar dando fim àquele tormento. O que diria a seus pais? Não tivera a coragem de contar a verdade para eles. Pensou em enviar pelo celular uma mensagem anunciando sua morte. Disseram a ele que o curso de humanidades era fácil, mal precisava frequentar. Gastou os quatro anos com farras e bebedeiras. Matava aula para puxar um fuminho com os cabeças do Diretório Acadêmico que diziam que eles eram alunos privilegiados, que os membros do Diretório não precisavam frequentar as aulas. Tinham uma espécie de imunidade, como fora idiota.

A formatura seria na próxima semana e seus pais estavam empolgados. Como dizer a eles que ele não se formaria? O pior que não saíra do primeiro período e nem havia se dado conta disso.

O que mais doía, era que seu parceiro, líder do Diretório Acadêmico, um burguesinho com discurso de esquerda, que o convencera de que assistir todas as aulas era coisa de reacionário e de que matar aula era protestar contra o sistema, estava se formando. E quando o vira entrando na comissão de formatura, perguntou-lhe com sarcasmo o que ele estava fazendo ali, pois ali era só para quem estava se formando. Como havia sido bobo. Agora pensava em dar um fim à sua existência medíocre. Não. Antes de pular mandaria uma mensagem a seus pais.

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