CONFISSÕES DE UM ADULADOR: Capítulo 13

Por: Jorge Eduardo Magalhães

Na manhã seguinte, depois de mais uma noite mal dormida, peguei o veneno, guardei junto com minhas coisas e saí para trabalhar. Cheguei mais cedo do que o habitual na empresa.

Perguntei à secretária se o doutor Otávio chegaria de viagem naquele dia e, com má vontade, disse que não sabia.

Assim que chegou Ricardo, pediu que fosse até a sua sala. Não sei por que senti um calafrio, um temor. Entrei em sua sala e Ricardo me recebeu com ternura e simpatia. Pediu para que eu me sentasse; obedeci. Deu um sorriso fraternal e disse que tinha uma boa notícia para mim. Meu coração disparou de tanta apreensão. Finalmente tinha chegado meu dia. Meu sonho se tornaria realidade. Depois de tanto tempo de espera meu valor seria reconhecido. Ricardo estufou o peito e disse que meu apartamento estava ficando quase pronto e em breve eu poderia me mudar. Naquela semana seria o coquetel de lançamento. Fiquei radiante, perguntei-lhe que tipo de traje eu deveria usar no evento. Qual evento, perguntou. O coquetel, disse. Ricardo deu um sorriso sem graça, desconversou e disse para eu aguardar as notícias. Ricardo, sempre amigo, disse que eu estava dispensado e poderia tirar meu dia de folga naquele dia e no dia seguinte, agradeci radiante. Pediu que eu me retirasse, pois tinha muita coisa para fazer. Mandei lembranças para Bianca, mas ele estava tão entretido com seus afazeres que nem escutou. Aquele era meu amigo, sempre distraído. Pedi licença e saí.

A empresa ficava uma paz sem o crápula do doutor Otávio. Saí de lá sob os olhares invejosos dos colegas de trabalho.

Andei pelas ruas pensando em minha nova vida ao lado de minha amada sem o doutor Otávio. Foi quando eu me dei conta de que não teria coragem de matá-lo. Ele não valia nada, mas era pai de meu melhor amigo, tinha que vencer o inimigo de outras formas, de forma inteligente, astuta e não através de um crime.

Telefonei para minha amada e disse que precisava falar com ela. Ela perguntou se eu já tinha feito o combinado e respondi que não. O doutor Otávio ainda não tinha chegado de viagem. Ela disse que não tínhamos nada o que conversar enquanto eu não fizesse o que tinha que ser feito. Insisti e, com muita má vontade, ela deixou que eu fosse até sua casa.

Cheguei a seu apartamento e ela me atendeu com um visível mau-humor. De forma áspera, perguntou o que eu queria. Pedi para ela se sentar e me sentei ao seu lado. Ela não olhava em meus olhos. Entreguei-lhe o frasco que continha o veneno. Ela perguntou o que significava aquilo. Confessei que não teria coragem de fazer aquilo, porque era amigo do filho dele, que naquela tarde tinha demonstrado imensa afeição e amizade por mim. Minha amada nem me deixou terminei de falar. Aos gritos mandou que eu me retirasse, que queria ao seu lado um homem de verdade e não um covarde como eu. Ainda tentei argumentar, mas ela disse que eu só voltasse lá quando eu criasse coragem de fazer o que ela queria que eu fizesse. Abriu a porta e pediu que eu me retirasse. Sai de cabeça baixa e ela bateu a porta com força.

Vários pensamentos passavam por minha cabeça. Estava confuso. Precisava organizar minhas ideias.

Estava entre a cruz e a espada. De um lado meu amor por aquela jovem prisioneira, de outro o meu melhor amigo que era filho do algoz de minha amada. Era um dilema. Pensei em voltar à casa de minha amada, tocar a campainha e dizer que estava disposto a dar um fim no doutor Otávio, mas logo recuei e desisti da ideia. Não poderia fazer aquilo. Tinha a obrigação moral de ser leal ao meu casal amigo Ricardo e Bianca.

Precisava vencer o doutor Otávio na conversa. Decidi, faria uma loucura, não importava as consequências, no dia da inauguração do prédio onde eu iria morar revelaria ao doutor Otávio o meu amor pela sua amante e iria pedir que ele a deixasse para sempre. A surpresa seria tanta que com certeza o Ricardo ficaria em meu favor.

Fui para minha mísera hospedagem disposto a dormir até tarde no dia seguinte e pensar nas palavras que usaria para revelar tudo ao doutor Otávio.

No dia do coquetel de inauguração do prédio onde eu moraria, vesti minha melhor roupa e fui para o evento. Estava ansioso.

Logo quando me aproximei, escutei os risos e os barulhos dos copos. Na porta o segurança perguntou se eu tinha convite. Tentei explicar que era amigo do dono da empresa, o doutor Ricardo e futuro morador de um dos apartamentos. O segurança perguntou meu nome e verificou na lista de convidados. Olhou por duas vezes e disse que meu nome não constava. Deve ter sido algum engano, tentei argumentar. Ele disse que não poderia fazer nada. Insisti pedi que chamasse o Ricardo. Informou-me que ele estava viajando. Pedi que chamasse o doutor Otávio, pois tinha que falar com ele.  O segurança, perdendo a paciência, disse que não poderia incomodá-lo. Tentei insistir. O doutor Otávio surgiu na porta com uma taça de champanhe na mão. Perguntou de forma ríspida o que estava acontecendo. Constrangido, o segurança, tentou explicar que eu insistia em falar com ele. Antes que eu começasse a falar, o doutor Otávio disse que não precisava de mim, pois o quadro de garçons e faxineiros já estava completo. Ainda tentei argumentar alguma coisa, confessar-lhe que amava a sua amante e não queria que ele a visse mais, foi quando aos berros ele me chamou de idiota e mandou que eu sumisse de sua frente, caso contrário me colocaria no olho da rua. Meu ex-colega apareceu na porta e viu o doutor Otávio aos berros comigo. “Você de novo?”, perguntou com sarcasmo. Calei-me e, humilhado, virei de costas e saí ouvindo a gargalhada de meu ex-colega.

Andando pela rua, fui pensando no acontecido e tomei uma decisão definitiva: daria um fim à vida do doutor Otávio.

 

NÃO PERCAM O PENÚLTIMO CAPÍTULO.

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