O ANJO EPISTOLAR: CAPÍTULO 23 – Primeira Epístola

Por: Jorge Eduardo Magalhães

Lá estava, conforme O Anjo Epistolar havia prometido, a tal esperada “Primeira Epístola”. Sentia certo alívio de o desconhecido ter cumprido a sua palavra. Li e reli o texto:

Prezado Editor,

É com um imenso prazer que lhe envio esta “Primeira Epístola”, onde começarei a desvendar todos os crimes que você abordou de forma imensamente sensacionalista, causando-me um misto de repulsa e fascínio. Tenho de admitir que é terrivelmente genial.

A minha função é ouvir relatos e confissões das pessoas, talvez eu seja um sacerdote de qualquer religião, um psicanalista, ou, simplesmente um mero ouvinte de botequim; isso não vem ao caso, o que realmente nos interessa é que as pessoas vêm me procurar para contar suas agruras e seus crimes, e vamos chamá-las de clientes.

Essas pessoas, confiando tanto em meu sigilo, confessam-me seus mais tenebrosos atos. De certa, forma cumpri minha promessa, pois jurei manter segredo enquanto elas fossem vivas. Só enquanto fossem vivas. Por isso, agora estou quebrando o sigilo, pois elas não estão mais entre nós. Não esperavam que eu aceleraria suas respectivas passagens.

Na verdade, simplesmente, eliminando-as, cometi verdadeiros e legítimos de justiça, fiz com que todos esses maus elementos pagassem por seus feitos com suas próprias vidas. Eram pessoas que não fazem falta neste mundo e só vieram à vida para disseminarem o mal.

Vamos começar pelo cabeleireiro Edvaldo da Silva, cuja morte gerou aquela onda de protestos, conhecida como “Somos todos Ed”. Uma verdadeira palhaçada. Todos pensam que ele foi uma vítima de algum homofóbico, mas não, ele que fez suas vítimas, por isso foi eliminado. Na próxima epístola, conto os detalhes sobre a morte do cabeleireiro e porque teve de ser varrido da sociedade.

Cordialmente,

O Anjo Epistolar

Confesso que tive receio de publicar aquela “Primeira Epístola”, temendo a repercussão da narrativa, pois, hoje em dia, um GLBTQIA+ (não sei se esqueci alguma letra) é quase um ser imaculado. Meu dedo pesou, mas criei coragem e apertei o botão. Postei na coluna do jornal.

NÃO PERCAM O CAPÍTULO DE AMANHÃ.

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