Os dois portugueses

Por: Jorge Eduardo Magalhães

Em uma segunda feira, mais especificamente no dia 25 de abril de 1994, encontrava-me melancólico. Era uma data triste para mim, o aniversário de uma antiga namorada que, três anos antes, havia terminado o namoro comigo e, sempre em sua data natalícia, lembrava-me dela.

Aproveitei que estava de folga para pagar umas contas em minha agência do extinto Banerj, na Avenida João Ribeiro, em Pilares. Depois de ter resolvido as pendências bancárias, entrei em um bar, ali nas proximidades, para beber algo. Recordava-me de como terminou nosso namoro e que era seu aniversário. Havia nascido um ano antes de mim.

Minhas recordações foram interrompidas ao ver, no canto do balcão, dois conhecidos meus, o seu Mário e o seu Joaquim, ambos portugueses, cinquenta e poucos anos, creio que um fosse do Minho, outro do Algarve. Embora bebessem juntos, discutiam com veemência.  Cumprimentaram-me e continuaram o debate.

Descobri que, justamente, naquele dia, a Revolução dos Cravos, que restituiu a democracia em Portugal, completava vinte anos. Seu Mário felicitava a data, pois, por ser comunista, fora obrigado a fugir para o Brasil em 1967, um ano antes de o ditador Salazar ter sido substituído por Marcelo Caetano que, apesar de reformas, manteve o regime ditatorial.  Seu Joaquim, ao contrário, dizia que Salazar era um injustiçado, pois havia feito muito por Portugal, inclusive pelo fato de ter evitado a instauração do comunismo em seu país. Seu Mário acusava o companheiro de ter sido um agente da PIDE.

Devido ao fato de ter escutado aquela rápida conversa, descobri algumas coisas como, por exemplo, que quando ocorreu a Revolução dos Cravos, minha ex-namorada estava completando um ano de idade e que a PIDE, era a Polícia Internacional de Defesa de Estado, como fora o DOPS aqui no Brasil.

Paguei a conta e despedi-me dos dois, que continuaram bebendo e discutindo, sem me dar muita atenção, chegando à conclusão que, de qualquer forma, ambos defendiam regimes ditatoriais, de lados opostos, evidente, mas nenhum dos dois era a favor da democracia, embora dissessem o contrário.

Nem imaginaria que, mais de vinte anos depois, o Estado Novo em Portugal e a Revolução dos Cravos seriam objetos de estudo da minha tese de doutorado, em uma investigação da dramaturgia sobre o tema e, muito menos, que daria graças a Deus por não ter casado com minha ex-namorada.

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One comment

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    Bela narrativa! Muito boa a conexão com fatos históricos.

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