Confissão

 

Por: Jorge Eduardo Magalhães

Fui eu quem matou sim, doutor. Confesso. Entrei na casa dela pra roubar o que podia. Não sabia que ela estava em casa e matei aquela velha com um monte de pauladas na cabeça. Não entrei na casa dela com intenção de matar, mas já que ela estava lá, fiz o serviço. Não me arrependo, e estou aliviado. Odiava aquela velha. Sabia que ela morava sozinha naquela casa enorme, o filho dela estudou comigo no primário, era casado e morava longe num apartamento de luxo, de vez quando aparecia para visitar a mãe. Como disse, odiava aquela velha desde que era criança e estudava com o filho dela, aquele branco azedo. Depois da escola a gente ia estudar na casa dele, ele, só pra me humilhar, mostrar que era melhor que eu, queria me ajudar nas matérias. Na verdade, queria jogar na minha cara a casa grande e bonita que ele morava (a melhor da rua), enquanto eu morava num barraco no morro. Depois, vinha a mãe dele com aquele sorriso forçado, aquela falsa bondade trazendo um lanchinho pra gente. Queria me mostrar “você passa fome e nós temos tudo do bom e do melhor”. Depois ele foi fazendo cursos, estudando, se formando enquanto eu não saí do primário, fui trabalhar na feira, ele melhorou de vida e se casou indo morar longe daqui. A mãe dele não foi junto porque não queria sair de sua casa. Quando ela me encontrava na rua, vinha me abraçar e falar como estava seu filho, só pra me humilhar. A brancura dela me fazia a odiar ainda mais. O filho dela, quando vinha aqui e me encontrava, fingia ser simpático, pagava uma cerveja e ia embora exibindo seu carrão. Branquelo safado. Matei mesmo, com prazer. Se seu filho estivesse junto na hora, matava ele também e toda sua família com crueldade, branquelos babacas!

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One comment

  1. Avatar

    Muitas vezes, ao querer ajudar alguém, podemos lhes parecer arrogantes .Muito bom!

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